A sabedoria silenciosa da intuição
Durante muito tempo, intuição era uma palavra que até existia em algum dicionário desse mundo por onde perambulo. Claro! Não é uma palavra tão rara assim a ponto de nunca escapar em uma conversa ou outra, de aparecer em um filme, uma música, um livro ou qualquer outro local. Não é um assunto não comentado ou até mesmo evitado. Vez ou outra, ofcourse, escutamos algo relacionado a isso. Mas dizer que eu dava realmente atenção a ela, se fazia sentido ou não na minha vida, se ela se manifestava em mim ou whatever… não, de jeito nenhum! Eu existia daqui – e tudo bem se ela existisse de lá. Digamos que eu simplesmente era alheia a ela.
Alheia não somente a intuição, na verdade, mas a MUITAS outras coisas das quais, hoje, eu valorizo, alimento em mim e não abro mão. Estamos em constante mudança. Não é da noite para o dia que acordamos conhecendo nossas preferências, o que nos alegra ou nos chateia, o que ansiamos, o que tememos e tampouco o porquê disso tudo. Sim, esse lance de intuição também tem tudo a ver com autoconhecimento. “Ai, que clichê!”. Mas se não é sobre isso, meu amigo, é o que então?
Parênteses: (( ‘Brusinha’ assimétrica,vestido com tênis, cílios alongados, alfaiataria retrô… isso sim pode entrar e sair de moda. Apesar de certas tendências dessas me causarem uma repulsa natural por beirar a futilidade, demonstrar fraqueza social e favorecer uma exploração comercial, esse é o tipo de coisa que eu (ainda), mesmo que minimamente, consigo conceber a ideia de estourar a modinha da noite pro dia e morrer em velocidade similar, bastando apenas que, para isso, apareça um ‘Neymar da vida’ para tornar febre um novo corte de cabelo, que fará todas as outras tendências caírem no esquecimento. Agora, autoconhecimento? Por favor, levemos mais a sério! Quem sacar que, no frigir dos ovos, a chave de tudo está na arte de se conhecer cada vez melhor, terá um mar de possibilidades pela frente – ainda que esteja calçando um crocs com um vestido boho. Então, sim, falemos de autoconhecimento! Continuemos… ))
Intuição, para mim, era uma ideia meio vaga — talvez uma espécie de palpite ou sensação solta que aparecia de vez em quando. Às vezes até mesmo se confundindo com inseguranças ou desejos. Mas, com o tempo, percebi que a coisa não era tão sucinta assim e compunha algo muito maior. Eu comecei a prestar atenção que, toda vez que eu sentia um desconforto aparentemente sem origem ou uma paz no coração sem razão explícita, eu manifestava ali uma sabedoria que, embora completamente silenciosa, era também extremamente poderosa e dominante.
É como uma voz interna que traz um “sim” leve ou um “não” forte inexplicável. Por vezes, se manifesta através de sensações e desconfortos… Sutis, não gritantes. Apenas um sussurro. Mas, cara, é um sussurro tão característico, que divide delicadeza e força tenuemente. Chega a ser assustador (para bom, graças a Deus!). E o que é mais louco nisso tudo? Ela quase sempre está certa. Glória!
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O Duelo: Razão x Intuição
No começo, quando comecei a prestar mais atenção à intuição, eu me colocava em dúvida: será meu senso de razão atuando ou será mesmo a danada da intuição dando o ar da graça? O que ocorre é que o caminho que cada uma percorre é bastante peculiar. A razão analisa, mede, calcula. A intuição sente, percebe, reconhece. Enquanto a mente quer entender, a intuição simplesmente sabe.
Às vezes, tenho a impressão de que a intuição pode ser o resultado invisível de uma soma de experiências, percepções e emoções acumuladas ao longo da vida. É como se o corpo e a alma juntassem tudo o que já viveram e, em um segundo, nos entregassem uma resposta direta — sem precisar de explicação. É como uma bússola interna que vai nos conduzindo conforme o que já registramos em nosso ser; que vai nos apontando o que vale a pena investir tempo e energia e o que merece ser ignorado; o que precisa ser levado a sério e o que carece apenas uma prece para se deixar ir. Uma sabedoria interior cada vez mais anciã. De puro despertar.
Tudo lindo e maravilhoso, mas também há seus desafios! Sabe qual? O sistema! A gente aprendeu a desconfiar do que não pode ser comprovado. Vivemos numa cultura que valoriza o racional, o lógico, o visível. Então, acabamos silenciando essa voz que fala baixo, por medo de parecer irracional. A sociedade não gosta de quem vai contra o que a massa pensa, prega e faz. Quem ousa enfrentar o fluxo contrário da manada não vai receber flores. E isso acaba por dificultar reconhecermos o que é razão e o que é intuição. Quando isso acontece comigo, sabe o que eu faço? Eu silencio. Nesse momento ou pouco depois, a nitidez vem com força, simplesmente porque a intuição não é o oposto da razão — ela é o complemento. É o que falta quando a lógica não alcança o invisível.
É realmente muito bom conseguir ‘escutar’ a intuição. Só que essa capacidade exige uma dose generosa de coragem. Porque nem sempre ela vai trazer uma resposta imediata e isso gera um desconforto danado. E, além de demorar para aparecer, pode ser que nem sempre ela vai nos dizer o que queremos ouvir. Às vezes, vamos ter de “amarrar as carças” e esperar, pois, por mais que tudo à nossa volta esteja pedindo por ação, ela vai nos pedir calma. Outras vezes, quando a gente só quer ficar quietinho, escondido em algum buraquinho, ela vai nos dar um empurrão tão bem dado, que não há zona de conforto no mundo que nos segure. E é justamente por isso que ouvi-la demanda confiança — confiança em si, na vida, no amanhã e nesse campo invisível de sabedoria que nos guia.
Hoje, eu vejo que seguir a intuição não é sobre acertar sempre, mas é sobre viver alinhada com algo mais verdadeiro, mais íntimo e mais essencial. É sobre agir em coerência com aquilo que vibra dentro de mim, mesmo quando não tenho todas as provas ou garantias.Se essa habitante desse mundo que vos escreve precisasse dar uma definição do que é a intuição, talvez constaria em meu dicionário pessoal: “A intuição é, no fundo, a linguagem da alma”. Quando aprendemos a escutá-la, o caminho se torna mais leve — porque deixa de ser apenas uma escolha racional e passa a ser um ato de sintonia com o que realmente somos. E, no final das contas, poucas coisas importam mais do que isso.

